
Brasil fortalece produção nacional de vacinas com RNA mensageiro: Ministro da Saúde anuncia investimentos estratégicos em parceria com Fiocruz, Butantan e Embrapii
O Brasil está diante de uma oportunidade histórica para se consolidar como líder global no campo da saúde pública, não apenas como consumidor de tecnologias, mas como protagonista no desenvolvimento científico, tecnológico e industrial. Em um anúncio feito durante a Plenária do Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis), realizada em 29 de maio de 2025, em Brasília, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, revelou um conjunto robusto de ações e investimentos destinados ao fortalecimento da produção nacional de vacinas baseadas em RNA mensageiro (mRNA).
Essa iniciativa faz parte de uma estratégia ampla que visa garantir a soberania sanitária do país, reduzir a dependência do mercado internacional, promover a inovação local e ampliar o acesso a tratamentos modernos e eficazes para a população brasileira. Com um investimento de mais de R$ 200 milhões somente para essa etapa inicial, o Ministério da Saúde estabeleceu novas diretrizes que reposicionam o Brasil no cenário da biotecnologia global.
Parcerias estratégicas para o desenvolvimento de vacinas com mRNA
Dentre as principais ações anunciadas, destacam-se os acordos firmados com três instituições de excelência no país: Fiocruz, Instituto Butantan e Embrapii. As duas primeiras, conhecidas por sua contribuição histórica à saúde pública brasileira, receberão juntas R$ 150 milhões por meio do Novo PAC Saúde, com o objetivo de viabilizar a instalação e o funcionamento de plataformas tecnológicas para a produção de vacinas com RNA mensageiro. Já a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) contará com R$ 60 milhões para a criação de centros de competência em biotecnologia, voltados para mRNA e para a produção de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA).
Essa ação é considerada fundamental não apenas para o combate a doenças como a covid-19, mas também para o desenvolvimento de vacinas e terapias voltadas a outras enfermidades de grande impacto epidemiológico e social, como leishmaniose, câncer, influenza, Zika, chikungunya e doenças respiratórias causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR).
Como funcionam as vacinas com RNA mensageiro?
As vacinas com RNA mensageiro são uma das maiores inovações da biomedicina nos últimos tempos. Elas funcionam como um manual de instruções para o sistema imunológico: ensinam as células do corpo a produzir uma proteína semelhante àquela encontrada em um vírus ou bactéria. Essa proteína desencadeia uma resposta imunológica que prepara o organismo para combater a infecção real, caso ocorra. O grande diferencial desse tipo de vacina é sua eficácia, rapidez de produção e flexibilidade de adaptação frente a novas variantes e patógenos emergentes.
Durante a pandemia de covid-19, as vacinas de mRNA, como as da Pfizer/BioNTech e Moderna, demonstraram ser altamente eficazes, colocando essa tecnologia no centro das atenções globais. A adoção dessa plataforma no Brasil representa um avanço estratégico com impactos positivos na saúde pública e na independência tecnológica do país.
Centros de competência em mRNA e IFA: o futuro da inovação em saúde
Outro destaque importante do anúncio do Ministro Padilha é a criação de dois centros de competência, que terão papel fundamental na formação de recursos humanos altamente qualificados, na geração de conhecimento técnico-científico e no fortalecimento da capacidade nacional de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
Um dos centros será inteiramente dedicado à plataforma de mRNA, enquanto o outro terá como foco tecnologias relacionadas à produção de insumos farmacêuticos ativos, especialmente aqueles baseados na biodiversidade brasileira — um ativo ainda subexplorado, mas com enorme potencial para gerar novos tratamentos e produtos inovadores.
Estes centros atuarão como polos articuladores, conectando instituições públicas, privadas e acadêmicas, além de fundações estaduais e agências de fomento à pesquisa, como a FINEP e o CNPq. Com isso, espera-se ampliar o alcance nacional da iniciativa e criar um ecossistema sólido de inovação no setor da saúde.
Redução da dependência externa e fortalecimento do SUS
A pandemia da covid-19 deixou clara a vulnerabilidade dos países que dependem de importações para suprir suas necessidades de insumos médicos, medicamentos e vacinas. O Brasil, embora tenha se mobilizado de forma significativa para enfrentar a crise sanitária, sofreu com a escassez e os atrasos na entrega de insumos estratégicos. Por isso, segundo o Ministro Padilha, fortalecer a produção nacional é mais que uma meta: é uma necessidade para garantir a autonomia sanitária.
Além da ampliação da capacidade de produção de vacinas, Padilha assinou duas portarias que autorizam 29 novos projetos com foco em inovação tecnológica, medicamentos essenciais e saúde digital. Essas iniciativas fazem parte do Programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) e do Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (Pdil), ambos voltados ao fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Avanços nos medicamentos para doenças raras
Dos 29 projetos aprovados, sete correspondem a novas PDPs voltadas à produção local de medicamentos essenciais para doenças raras como esclerose múltipla, fibrose cística e atrofia muscular espinhal (AME). Estima-se que esses projetos movimentem cerca de R$ 2 bilhões por ano, ampliando o acesso da população a tratamentos que antes dependiam de importações caras e limitadas.
Essa medida reforça o compromisso do governo federal com a inclusão e o cuidado com populações que historicamente tiveram pouco acesso a terapias adequadas, além de abrir espaço para que o país avance em áreas da medicina de alta complexidade.
Saúde digital, testes diagnósticos e equipamentos médicos
Os demais 22 projetos do Pdil receberão cerca de R$ 378 milhões em investimentos. Entre eles, oito são focados em saúde digital, com aporte superior a R$ 99 milhões. A ideia é modernizar o Sistema Único de Saúde (SUS), tornando seus serviços mais acessíveis, integrados e eficazes. Isso inclui, por exemplo, a digitalização de prontuários, a integração de dados clínicos e o uso de inteligência artificial no diagnóstico e monitoramento de doenças.
Um projeto de destaque é o desenvolvimento de um ultrassom point-of-care (POC), que poderá ser utilizado diretamente em unidades de saúde, blocos cirúrgicos e locais remotos, democratizando o acesso ao diagnóstico por imagem. Outro projeto inovador visa o avanço do xenotransplante, tecnologia que pode permitir o uso de órgãos de outras espécies para transplantes humanos, ajudando a reduzir significativamente as filas de espera no Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
Além disso, está sendo desenvolvido um novo teste de ácido nucleico (NAT), que melhora a segurança de transfusões de sangue ao detectar vírus e bactérias mesmo antes da manifestação de anticorpos, protegendo doadores, receptores e profissionais da saúde.
Estratégia Nacional para o Complexo Econômico-Industrial da Saúde
Todos esses projetos fazem parte da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, lançada pelo governo em 2023. A proposta visa consolidar um modelo sustentável de produção nacional de insumos, medicamentos, vacinas, dispositivos médicos e outras tecnologias em saúde.
O Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis) é responsável pela articulação das ações entre os 11 ministérios, 9 órgãos públicos, representantes da sociedade civil e do setor produtivo. O objetivo é garantir que o Brasil não apenas reaja a crises sanitárias, mas que esteja preparado para antecipá-las e enfrentá-las com autonomia.
A iniciativa é fortemente apoiada por políticas públicas como o Novo PAC Saúde, a Nova Indústria Brasil (NIB) e os investimentos do BNDES e da FINEP, todos alinhados para impulsionar o desenvolvimento científico e tecnológico na saúde.
O Brasil na vanguarda da saúde global
O fortalecimento das parcerias entre o Ministério da Saúde, Fiocruz, Instituto Butantan e Embrapii sinaliza uma nova fase para o Brasil. Uma fase em que o país deixa de ser apenas um receptor de tecnologias e se posiciona como líder global em inovação biomédica.
Com investimentos consistentes, planejamento estratégico e colaboração entre instituições públicas e privadas, o Brasil está se preparando para se tornar autossuficiente na produção de vacinas, reduzir sua dependência externa, gerar empregos qualificados e oferecer uma saúde pública cada vez mais moderna, inclusiva e eficaz.
O Ministro Alexandre Padilha foi enfático ao afirmar que o país está completando o que falta para se tornar um protagonista na produção de vacinas com RNA mensageiro. Essa visão, somada à execução concreta de políticas públicas, é o caminho para que o Sistema Único de Saúde (SUS) se fortaleça como um dos mais avançados do mundo — um modelo de equidade, inovação e soberania.
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