
Um alerta para a saúde pública: TDAH adulto está ligado a maior risco de morte precoce, mas fatores são modificáveis
Um novo estudo britânico de grande escala trouxe à tona dados preocupantes sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos. Publicado no dia 23 de janeiro de 2025 no The British Journal of Psychiatry, o levantamento retrospectivo analisou informações clínicas de mais de 330 mil pessoas no Reino Unido. O resultado? Adultos com TDAH podem ter uma redução de até nove anos na expectativa de vida, principalmente por causas evitáveis.
O estudo reuniu dados de 30.039 pacientes diagnosticados com TDAH e comparou com 300.390 adultos sem o transtorno. A análise revelou que fatores como comportamentos de risco, tabagismo, uso de substâncias e acesso limitado a tratamento psiquiátrico adequado estão diretamente associados à maior taxa de mortalidade entre os diagnosticados.
Expectativa de vida e TDAH: quanto o transtorno pode impactar?
Os números impressionam. Entre os adultos diagnosticados com TDAH, o risco de morte prematura é significativamente maior do que na população geral. Os homens com TDAH apresentam 1,89 vez mais chances de morrer antes do esperado, enquanto o risco para mulheres chega a ser 2,13 vezes maior.
Em média, a expectativa de vida aos 18 anos é:
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Para homens com TDAH: 73,2 anos
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Para homens sem TDAH: 80 anos
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Para mulheres com TDAH: 75,3 anos
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Para mulheres sem TDAH: 84 anos
Ou seja, uma diferença de 6 a 9 anos, dependendo do gênero.
Palavras-chave em destaque:
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TDAH adulto e mortalidade
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Redução da expectativa de vida
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Comportamentos de risco e TDAH
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Saúde mental negligenciada
TDAH e comorbidades: uma combinação perigosa
Um dos principais destaques da pesquisa é a frequente associação entre o TDAH e outras condições de saúde mental e física, conhecidas como comorbidades. Entre elas, estão:
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Transtornos de ansiedade
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Depressão
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Uso abusivo de substâncias (álcool, drogas ilícitas)
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Tabagismo
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Transtornos alimentares
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Doenças cardiovasculares
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Cânceres associados a estilos de vida de risco
Essas condições, se não tratadas adequadamente, contribuem para o aumento da mortalidade por causas evitáveis. Segundo os autores, a causa da redução da expectativa de vida não está no TDAH em si, mas nos fatores modificáveis relacionados a ele, como falta de diagnóstico precoce, ausência de acompanhamento médico contínuo e estigma social.
Diagnóstico tardio e barreiras ao tratamento: um problema global
Outro ponto importante levantado pelo estudo é que a maioria dos adultos com TDAH sequer é diagnosticada. Muitos convivem com os sintomas durante toda a vida sem saber o que têm. Quando recebem o diagnóstico, geralmente já convivem com consequências acumuladas, como histórico de fracasso escolar, dificuldades no trabalho, relacionamentos instáveis e problemas de saúde.
Além disso, mesmo entre os diagnosticados, o acesso a um tratamento integral, multidisciplinar e contínuo ainda é raro. Em diversos países, inclusive no Brasil, os serviços públicos de saúde não oferecem suporte suficiente para adultos com TDAH, que acabam sem acompanhamento adequado.
Especialistas reforçam: é possível reverter esse cenário
O estudo provocou reações entre especialistas da saúde mental e da saúde pública. A Dra. Elizabeth O’Nions, epidemiologista e uma das autoras do trabalho, destacou:
"Essa desigualdade exige atenção urgente. A redução na expectativa de vida provavelmente está ligada a fatores modificáveis, não ao TDAH em si. Melhorar o acesso à saúde mental e promover estratégias de prevenção são fundamentais."
O psiquiatra Dr. Philip Asherson, do King’s College London, reforçou:
"O TDAH está claramente associado a desfechos negativos de saúde. No entanto, o verdadeiro agravante é o diagnóstico tardio e a falta de suporte ao longo da vida. Isso agrava comorbidades e aumenta a exposição a riscos."
Para o também psiquiatra Dr. Oliver Howes, do mesmo instituto, há um fator decisivo que precisa ser mais explorado:
"Precisamos investigar com mais profundidade como o momento do diagnóstico e o tipo de terapia oferecida influenciam diretamente na qualidade de vida dos pacientes."
O papel das políticas públicas e da sociedade
Os resultados do estudo britânico reforçam a urgência de investimentos em políticas públicas para saúde mental. O TDAH adulto precisa ser tratado como uma condição crônica que afeta não apenas o comportamento, mas a saúde física e a longevidade das pessoas.
Entre as estratégias sugeridas por especialistas e organizações de saúde, destacam-se:
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Capacitação de profissionais de saúde para diagnóstico e manejo do TDAH em adultos.
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Criação de centros de atenção psicossocial (CAPS) voltados ao público adulto.
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Ampliação de acesso a medicamentos e terapias não farmacológicas.
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Campanhas de conscientização para reduzir o estigma.
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Promoção de hábitos saudáveis entre pacientes com TDAH, com acompanhamento contínuo.
Estratégias para quem convive com TDAH: como viver mais e melhor
A boa notícia é que há muito o que pode ser feito para melhorar a qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida de quem tem TDAH. Veja algumas dicas baseadas em evidências científicas:
1. Busque diagnóstico e acompanhamento adequado
Se você suspeita que tem TDAH, procure um psiquiatra ou neurologista com experiência em adultos. O diagnóstico correto é o primeiro passo para uma vida mais equilibrada.
2. Siga o tratamento com regularidade
O tratamento pode envolver medicação, psicoterapia, acompanhamento nutricional e mudanças de estilo de vida. A combinação dessas abordagens é o que proporciona os melhores resultados a longo prazo.
3. Abandone hábitos de risco
Evite o consumo de álcool e drogas, não fume e invista em atividades físicas regulares. Esses comportamentos impactam diretamente a saúde cardiovascular e emocional.
4. Pratique o autocuidado
Tenha uma rotina de sono saudável, alimente-se bem, cultive relacionamentos positivos e respeite seus limites mentais e físicos.
5. Crie uma rede de apoio
A convivência com TDAH pode ser desafiadora, e ter uma rede de apoio faz toda a diferença. Procure grupos de suporte, psicólogos, terapeutas e até fóruns online com pessoas que vivem situações semelhantes.
Viver com TDAH é possível – e com qualidade
O estudo britânico serviu como um importante alerta, mas também nos oferece um caminho de esperança. Embora os números mostrem que o TDAH em adultos está relacionado à maior taxa de mortalidade, essa realidade pode ser transformada com acesso a diagnóstico, tratamento e políticas públicas inclusivas.
Viver com TDAH não precisa significar uma sentença. Com informação, suporte e tratamento adequado, é possível viver mais e melhor, com mais saúde física, equilíbrio emocional e realização pessoal.
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