Cresce o Uso de Medicamentos para TDAH, Mas Efeito Protetor Diminui: Entenda os Motivos e Implicações

Cresce o Uso de Medicamentos para TDAH, Mas Efeito Protetor Contra Riscos Graves Diminui: Entenda os Motivos e Implicações


Publicado em 10 de julho de 2025 | Por Comunicação CFF / Fonte: Medscape


O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido amplamente estudado e tratado com medicamentos que ajudam a controlar sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade. No entanto, uma nova análise de dados de longo prazo realizada na Suécia levantou um alerta: embora os medicamentos para TDAH continuem demonstrando benefícios importantes, como a redução de riscos de automutilação, acidentes e até crimes, esses efeitos positivos parecem estar diminuindo com o passar do tempo e com a ampliação do uso dessas terapias.



Um estudo robusto e revelador


A pesquisa, conduzida por cientistas do renomado Karolinska Institutet, foi publicada recentemente no respeitado periódico JAMA Psychiatry. O estudo analisou registros de mais de 247 mil indivíduos com TDAH, com idades entre 4 e 64 anos, atendidos pelo sistema de saúde sueco entre os anos de 2006 e 2020. O objetivo foi comparar o risco de eventos adversos nos períodos em que os pacientes estavam medicados com os períodos em que não estavam.

Os resultados confirmam que há uma associação consistente entre o uso de medicamentos para TDAH e a redução de eventos adversos, como:

  • Acidentes de trânsito;

  • Automutilações;

  • Lesões acidentais;

  • Envolvimento em comportamentos de risco e criminalidade.

Porém, um ponto importante chamou a atenção dos especialistas: essa associação tem enfraquecido com o tempo, especialmente nos últimos anos.



Por que o efeito protetor está diminuindo?


Nos primeiros anos da análise (2006 a 2010), o uso de medicamentos era mais concentrado em casos considerados graves. Nessa fase, os efeitos positivos do tratamento eram mais evidentes, principalmente entre mulheres. Os medicamentos demonstraram forte impacto na prevenção de consequências perigosas e melhoraram significativamente o bem-estar dos pacientes.


Contudo, com o passar dos anos e a expansão das prescrições para pessoas com sintomas mais leves, a força da associação entre o uso dos medicamentos e os desfechos positivos começou a se reduzir. Ou seja, mesmo que o tratamento ainda traga benefícios, eles se tornam menos marcantes quando aplicados a casos com menor gravidade.


Essa tendência foi observada mesmo após o controle de variáveis como idade, sexo e histórico clínico, o que sugere que a seleção dos pacientes para tratamento medicamentoso pode influenciar diretamente a eficácia do mesmo em termos populacionais.



Uso racional de medicamentos e avaliação individual


A pesquisa reacende o debate sobre a importância da prescrição criteriosa dos medicamentos para TDAH. O tratamento não deve ser visto como uma solução universal para todos os indivíduos diagnosticados com o transtorno. Pelo contrário, cada caso deve ser analisado com base em sua complexidade, necessidades e riscos associados.


É essencial que o diagnóstico seja feito por profissionais qualificados, com base em critérios clínicos claros, e que o uso de medicamentos como metilfenidato, lisdexanfetamina ou atomoxetina seja avaliado dentro de um plano terapêutico que inclua, sempre que possível, intervenções psicossociais, comportamentais e educacionais.



Benefícios ainda são relevantes


Apesar da queda na intensidade dos efeitos protetores, os autores do estudo reforçam que os medicamentos continuam sendo uma ferramenta valiosa no tratamento do TDAH. Quando bem indicados e acompanhados, eles contribuem para a redução de:

  • Riscos de acidentes;

  • Condutas impulsivas e autodestrutivas;

  • Problemas escolares e de relacionamento;

  • Comportamentos antissociais.

Para os especialistas que comentaram o estudo, o foco deve ser sempre a melhoria da qualidade de vida do paciente. O uso da medicação não deve se restringir à prevenção de tragédias, mas sim ao desenvolvimento pleno do indivíduo em suas múltiplas dimensões – acadêmica, profissional, social e emocional.



O cenário brasileiro: aumento das prescrições também é realidade


Assim como na Suécia, o Brasil também tem registrado um aumento no uso de medicamentos para TDAH, especialmente em crianças e adolescentes. Dados da Anvisa mostram crescimento expressivo na comercialização de estimulantes do sistema nervoso central nas últimas décadas.


Esse crescimento é resultado de maior reconhecimento do transtorno, mas também levanta preocupações sobre a possibilidade de excessos diagnósticos e medicalização da infância. Muitos profissionais alertam para o risco de rotular comportamentos normais como patológicos, sobretudo em ambientes escolares que nem sempre têm estrutura para lidar com a diversidade de perfis comportamentais.



A importância do acompanhamento multiprofissional


O tratamento eficaz do TDAH deve contar com uma equipe multiprofissional, incluindo:

  • Médico psiquiatra ou neurologista;

  • Psicólogo;

  • Psicopedagogo;

  • Educadores e familiares envolvidos no cuidado.

Essa abordagem integrada permite que os medicamentos sejam usados de forma mais estratégica e personalizada, aumentando as chances de sucesso terapêutico e minimizando riscos desnecessários.



Dados técnicos do estudo


  • Amostra: 247.621 pessoas com diagnóstico de TDAH;

  • Período: 2006 a 2020;

  • Faixa etária: 4 a 64 anos;

  • Local: Sistema de saúde sueco;

  • Publicação: JAMA Psychiatry, junho de 2025;

  • Instituição responsável: Karolinska Institutet;

  • Financiamento: Público, sem apoio da indústria farmacêutica;

  • Conflitos de interesse: Nenhum declarado pelos autores.


O equilíbrio é essencial


A nova evidência vinda da Suécia reforça que os medicamentos para TDAH são úteis e eficazes, mas que seu uso deve ser pautado na individualidade de cada paciente. À medida que o acesso ao tratamento se amplia, torna-se ainda mais importante garantir que as prescrições sejam feitas com critério e responsabilidade.


A medicina deve buscar o equilíbrio entre intervenção e cautela, reconhecendo o valor da medicação, mas sem negligenciar a importância das abordagens não farmacológicas, do acompanhamento constante e da escuta atenta às necessidades dos pacientes.


Em última análise, o foco deve estar na melhoria da qualidade de vida e no bem-estar integral dos indivíduos com TDAH – crianças, adolescentes ou adultos – respeitando suas histórias, seus contextos e suas singularidades


Os medicamentos para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Esses remédios, como Ritalina e Venvanse, são conhecidos por melhorar sintomas como desatenção e impulsividade, mas pesquisas anteriores também mostraram que eles podem reduzir riscos como acidentes, automutilação e até envolvimento em crimes.

No entanto, o novo estudo revela que, apesar do aumento nas prescrições, o efeito protetor desses medicamentos tem diminuído com o tempo.


Principais Pontos do Estudo

1. Benefícios Anteriores dos Medicamentos para TDAH

  • Estudos antigos mostravam que os remédios ajudavam a:

    • Reduzir acidentes de trânsito.

    • Diminuir automutilação e lesões acidentais.

    • Evitar envolvimento em crimes.

2. O Que Mudou?

  • O estudo analisou 247 mil pacientes suecos (de 4 a 64 anos) entre 2006 e 2020.

  • Comparou períodos em que estavam medicados com períodos sem medicação.

  • Conclusão principal:

    • Antes (2006-2010): Os benefícios eram mais fortes, principalmente em mulheres e casos graves.

    • Depois (2011-2020): Com o aumento das prescrições (inclusive para casos mais leves), o efeito protetor diminuiu.

3. Por Que Isso Aconteceu?

  • Possível explicação:

    • Quando os remédios eram receitados apenas para casos graves, o impacto positivo era maior.

    • Com a expansão para sintomas mais leves, o benefício relativo (em comparação com quem não toma) ficou menor.

4. Os Medicamentos Pararam de Funcionar?

  • Não! Eles ainda trazem benefícios importantes para qualidade de vida e segurança.

  • A diferença é que, antes, o contraste entre quem tomava e quem não tomava era maior.

  • Agora, como mais pessoas usam a medicação (inclusive com sintomas menos graves), a vantagem relativa diminuiu.


Implicações Práticas

✔ Medicamentos ainda são úteis, mas o estudo sugere que critérios rigorosos para prescrição podem ser necessários.
✔ O foco deve ser melhorar a qualidade de vida, não apenas evitar riscos graves.
✔ Prescrição indiscriminada (para casos muito leves) pode diluir o benefício geral.



O estudo não diz que os remédios para TDAH perderam sua eficácia, mas sim que, quando mais pessoas (inclusive com sintomas leves) passam a usá-los, o efeito protetor "extra" (como evitar acidentes) parece menos intenso do que antes.

Isso reforça a importância de avaliação cuidadosa antes de prescrever, garantindo que a medicação seja usada por quem realmente precisa.

Fonte: JAMA Psychiatry (Junho/2025), pesquisa do Karolinska Institutet (Suécia) 








 



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